quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Caminho para a (ponta da) Cidade do Cabo
Porque sou homem, preso ao círculo fechado de minha futura carcaça, ainda animada e cheia de desejos. Sou homem e frágil, e a incerteza me rapina a cada momento, já que por vezes tudo o que tenciono é uma via reta, sem bifurcações. Mas isso não existe, é prosa morta. Tão morta quanto esta caneta, que me abandona a mão e se recusa a escrever.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Meu Jesus
Cristo com coroa de espinhos, Lucas Cranach o velho;
Reconstituição do rosto de Jesus (programa Son of God, da BBC);
Jesus Cristo Pantocrátor, basílica de Santa Sofia.
Pois bem, sangue foi derramado e pessoas foram perseguidas nas muitas batalhas ideológicas a respeito da figura de Jesus Cristo. Homem e deus de existência indissolúvel, revolucionário nacionalista, carne separada do lógos, entre outras representações, Jesus foi pintado com as tintas mais úteis a cada facção, império, seita ou indivíduo, geralmente com um papel bem definido.
O nazareno já outorgou autoridade a diversos governos monárquicos - seja o Cristo Pantocrátor dos romanos orientais, seja o Jesus pregado à cruz da Igreja Católica do Ocidente - e ainda hoje tem seu nome usado por religiões diversas e de modo aparentemente desinteressado, mas também em cultos neopentecostais voltados para pessoas que vivem numa austeridade semelhante à dos primeiros cristãos, mas que acabam sendo enganados por "sacerdotes" que mais se assemelham a retores mal-intencionados que a bons pastores do povo.
Este homem multifacetado é o que hoje chamamos de figura de domínio público. Todos podem usar sua imagem para criar obras de ficção perigosas ou inócuas, como um objeto cultural que gera lucros, mentiras e também desvela algumas verdades.
Pois bem, eu também tenho o meu Jesus, que não é tão Cristo. Sua tez é cor de oliva, os cabelos crestados de sol. Suas mãos têm calos, assim como seus pés, acostumados ao calor das pedras orientais e ao pouco uso de sandálias de couro. A conduta do meu Jesus não é irrepreensível, porque apesar de criança ter discutido com os sábios, ele era ainda uma criança que fazia suas bagunças. Foi um jovem austero, mas alegre, sorridente; homem morto pelos socialmente fortes, porém tíbios em outras áreas.
Ele não nasceu em Belém, pois é nazareno; respeita o próximo, mas combate o que vai contra seus valores, tendo por arma a palavra justa e a ação correta; leva aonde vai sua austeridade sorridente, e tem comportamento exemplar de acordo com a humanidade que possui.
O que posso afirmar é para mim que esse homem não é um deus, mas um dos melhores homens. É idealizado e é meu, minha visão, um exemplo de conduta que moldei com a argila que me foi dada ao longo de minha criação. A dimensão desse Jesus é particular e ética. É um dos meus exemplos de conduta e de vivência, e não se relaciona diretamente à religião. Não consigo acreditar em ícones apenas por serem ícones; nunca conseguiria aceitar valores totalmente alheios à minha natureza, portanto, meu Jesus tem muito do mundo e muito de mim, mas moldado de modo que eu possa me tornar uma pessoa melhor, mais humana, quando olhar para esta imagem que gravei dentro de mim.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Ando muito bem, obrigado.
De um lado, triste, mas é uma tristeza que já me acostumei e que me acede uma vez por ano, quando minha irmã e sua família vão embora daqui de casa, durante sua visita anual. Vi a Benedetta aprender a andar - com minha ajuda, que fique registrado! -, o Lorenzo se desenvolver ainda mais e descobrir novas palavras, dividi meu tempo com a Regina, enfim, todas as pequenas coisas que me alegram tanto, mas de que não posso sempre usufruir.
De outro, feliz, por ter conhecido tantas pessoas boas em um curto período de tempo. Minha vida profissional e pessoal girou como boleadeira daqueles gaúchos míticos e talvez tenha acertado algo bom que estava correndo pelos Pampas. Metáforas tontas à parte, quero mudança e quero continuar com este coração tranquilo.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
E então, aquela estranha estrela brilhou dentro de mim
Pode soar piegas isso, e realmente é; mas isso surgiu na minha cabeça assim que acordei e não poderia deixar de registrar este estado de espírito, essa oscilação gerada por conta de uma simples conversa.
Carrego a contradição de gostar de pessoas e ao mesmo tempo desgostá-las. Sou de pouquíssimas amizades e muito colegas, e isso já me rendeu um ou outro dissabor, embora minha memória seja curta quando o assunto é sofrimento.
[Caro leitor, a folha estava rasgada e o restante do texto não pôde ser recuperado.]
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Leituras
Comecei a ler o Livro dos Espíritos. Há tempos que desejava começar a ler algo da doutrina espírita, religião que conheço tão pouco. O próximo passo: talvez alguns trechos do Alcorão, ou retomar a leitura dos Vedas!
Para quem não sabe, religião é um tema que me fascina, mesmo eu sendo agnóstico. A mistura de fé, mito e técnica que a maioria dos livros religiosos carrega acaba não sendo fruída em toda a capacidade, o que é uma pena! Tantas leituras possíveis, tanto para aprender!
Pois bem, além dele, estou com O homem invisível, A invenção de Orfeu, A sombra do vento e O lobo da estepe para acabar, alguns com pouco menos de uma dezena de páginas para serem terminados. Sim, é vergonhoso... Mas quem tem o hábito de ler mais de um livro ao mesmo tempo conhece este martírio.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Epitáfio-epítome
Os óculos de Hermann,
O timbre numa carta de Ariosto,
O cigarro do Zé Paulo.
Cada qual com seu pertence.
Só tenho a canalhice deste sorriso franco.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Bertrand Russell
Bertrand Russell, no "Educação e disciplina".
domingo, 24 de julho de 2011
Necessidade
Madrugada seca
Meu peito queima.
São bombas que não ouso rasgar,
embora queira rasgá-las.
Minha falta de crença tão sentida
e meu excesso de vontades
combinando-se pouco a pouco, em vias da reação fatal.
Meu ser humano, ser mineral, alcalino.
Meu pensamento, nada divinatório, me diz
Que em solo seco não surgem frutos do futuro.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Post pra testar o app do Blogger pro Android.
Pêndulo ao vento
Meus versos têm saído de trás pra frente nestes dias.
A vista enevoada ajuda - fazer poemas também é modelar nuvens - mas não ultimamente.
Começo a escrever sobre o garoto passando na calçada, me vejo descrevendo Shiva Nataraja.
Penso em feltro, vejo uma menina.
Embora não pareça, tudo entrelaçado por fios finos e longos ao largo numa estrada, prontos pra serem puxados e derramarem tudo sobre esse papel parado à minha frente.
terça-feira, 12 de julho de 2011
O entre.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Astronomia e Poesia
Passeio
domingo, 5 de junho de 2011
O subjeto [trecho]
Havia na estante uma edição das Fábulas Enganosas, com a capa carcomida e desbeiçada. No lugar da lombada, apenas os cadernos e suas costuras desguarnecidas, algumas soltas. O alfarrábio chamou minha atenção e, por fim, acabei retirando-o da prateleira.
Folheando a esmo, parei na página 49, curiosamente no início de uma das fábulas mencionadas pelo título. O nome, estranhíssimo: O Subjeto. Falava de um coelho que se encontrava com um animal de características fantásticas, um anticoelho, ou uma antipantera ou um antibasilisco, que a toda hora mudava de forma e de cor, assim como o som característico que produzia ao se metamorfosear, sempre misturando ao menos três sons diferentes dos animais mais díspares entre si. Ao mesmo tempo, aquele “antianimal” era inanimado. Um objeto, em suma, mas com tantas idiossincrasias quanto possível, e a maior delas era ser inanimado e ao mesmo tempo latir, zurrar e não ter pelos ou bico, e tendo-os. Era o tal do subjeto do título.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Moto-contínuo
terça-feira, 31 de maio de 2011
Letra sem música
_____
Hoje é um dia de vento frio
Oh vento nos carregue para
uma estrela que gire
lentamente e amarelo.
Esse ar gelado que enche meu peito
sopre minhas esperanças.
Sopre-as até aquela janela
e faça da minha voz um sussurro.
A fumaça do chá fazendo círculos
e o aroma em cada gota de vapor.
Oh vento nos leve até uma estrela.
Distração, memória
Mas pensava em xícaras.
Em como gostava de seu café puro
com bolo de festa para adoçar.
No chá que - ele bem sabia -
ela tomava nas tardes de outono.
Nos cappuccinos divididos com os amigos.
Na sensação dos dedos gelados
tocando o copo quente de papel.
No banco da padaria lá de sua cidade.
Nos cafés com seu pai, na sua faculdade,
em casa, sozinho com a janela,
as árvores e o vento.
Sem perceber, escreveu um poema de amor pelas coisas.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Pai
Ainda estou, e sinto-me mal por não ter sentido nada além do espanto no momento da notícia.
Fui trabalhar - como sempre, estou escrevendo no metrô - e no caminho até a estação me lembrei dele, uma figura meio quixotesca, cavaleiro do ridículo que não conseguia domar seus próprios desejos; de riso fácil, sempre com uma piadinha pronta ou uma boa história para contar. Se vivêssemos juntos agora, seríamos grandes amigos.
Dos meus quase trinta anos, vivi dez com ele. Saímos de casa, começamos de novo e sem ele. Vi minha mãe sofrer muito para nos sustentar, enquanto eu vivia com minhas fantasias de criança e observava meus irmãos crescerem - melhor, engrandecerem-se. No começo de minha adolescência o via esporadicamente, e depois ele mudou de estado, indo morar com uma irmã.
Se eu tiver um filho, não quero que sinta o que senti ao saber da morte do pai: indiferença.
Hoje não quero pêsames, não quero nada, apenas que não falem comigo nem que exijam coisa alguma.
Essa distância, essa ausência, ajudou a me moldar. Não sou uma ave que foi ensinada a caçar, mas aprendi a escalar picos sozinho, e devo isso involuntariamente a meu pai, bem como inumeráveis exemplos, para o bem e para o mal.
E basta.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Caligrama I
manhã - 22/01/2011
Imagens:Emma Bovary, Charles Léandre.Gilgamesh, Yoshitaka Amano.
manhã - 16/09/2010
segunda-feira, 16 de maio de 2011
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Pequenas mudanças
Eu achava a anterior mais bonitinha e tudo o mais, mas um pouco pedante...
E troquei a foto também! A anterior era de 2006. De lá pra cá meu rosto mudou um pouco, o cabelo, as atitudes. Amadureci bastante ao longo desses anos, e pegando o que venho escrevendo, a diferença se nota.
Bom, vou deixar a antiga descrição aqui pra que fique registrada - e porque eu achei bonita, conforme já disse. ;)
"Aqui atualizo e exponho algumas das dúvidas, limitações e pequenas alegrias de meus dias, de modo titubeante e esparso, como cabe a um indeciso de mão cheia. É meu pequeno patíbulo onde mato as horas ainda não mortas, sepulto as ideias e vejo-as renascer sob outro signo."
Manhã de maio
Pra todo o lado que olho,
que na verdade é o lado de dentro,
vejo a mesma coisa, escondida por mil cifras.
Embora eu desejasse explicar do modo simples,
as coisas só me vêm de jeito torto,
que é o jeito certo, já que galho não tem régua.
A melhor coisa a fazer é abrir a janela.
Sentir a lufada de ar rir no meio dos cachos,
a luz perene acariciar a pele
e a terra murmurar que está com sede.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Nulo
sexta-feira, 4 de março de 2011
28/02/11
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Meta e treino
A entrevista, por sinal, está muito boa e pode ser lida aqui.
domingo, 30 de janeiro de 2011
Falando de amor
Tudo beleza covosco?
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
tudo, e contigo?
Ferx diz:
tudo na perfeita paz
tirando uma discussão que tô tendo com a impressora aqui
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
impressoras sempre são temperamentais
Ferx diz:
tô quase terminando com ela
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
permita que ela dê uma explicação!
Ferx diz:
nossa relação tá ruim faz tempo
quando ela veio morar comigo, piorou.
a gente achou que seria bom, mas ela é cheia de manias
e olha que nem fico cobrando
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
ela fica pensando que pode ser mais que você... Isso é ruim, muito ruim
principalmente, quando ela deve obediência a você, afinal, você é quem a alimenta, dá abrigo...
Ferx diz:
claro, cadê o respeito?
hahahahaha
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
ninguém respeita mais os benfeitores hoje em dia!
huhuhuriheurhuirhuiehruhrewuhu!!
Ferx diz:
ainda mais os paternalistas!!!
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
gente, que horror
já pensou em bater nela? merece uns tapas!
Ferx diz:
Não chega a tanto
ela fica com a luzinha verde pra mim
piscando
fazendo charme
[b][c=2]·٠•● Eagleheart ●•٠· ≈ Let's rock! [/c=51][/b] diz:
hum... Se ela tá piscando pra você, né, ainda há esperança!
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Elys, valeu pela conversa!
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Epitáfios possíveis
"Sempre quis trabalhar, acabou empregado."
"Grande artista, sua maior performance foi morrer."
"Viveu como um passarinho: quase não comia."
"Ateu ferrenho, conquistou o paraíso."