quarta-feira, 25 de julho de 2007

Cara calada

Sentiu o travo à garganta como quando o sono se insinua, deitado na poltrona apertada e acolchoada do ônibus intermunicipal. A cabeça no encosto, olhos para o alto, céu chuvoso. Estava ali, a caminho, fazendo-se repetido outra vez, um bolachão riscado na melhor parte da música.

Para sua tristeza, não havia trazido guarda-chuva, e contra aquele aguaceiro que o pegara desprevinido nada poderia fazer. Chegou ao destino após as duas horas habituais, mais os dezesseis minutos inesperados. Venceu a catraca, o elevador e a recepcionista, chegando finalmente à sua mesa. Dezesseis minutos. Cartão de ponto passado como se passa uma lâmina num queijo em comercial de faca, e-mail com justificativa de atraso enviado para a empresa de contabilidade terceirizada. Tudo certo, tudo pronto. Em seu trabalho, almoça-se ao meio-dia.