quarta-feira, 28 de março de 2007





Do alto de minha janela
o silêncio da avenida.

Leve zumbido
gostoso.
Sibilo de vento.

Branco(Verde?) de lâmpadas enganosas,
o duvidoso escuro noturno.





segunda-feira, 26 de março de 2007

Acordação

Noites de des-sono
que repasso.
Que vêm e vão e
nem notadas são.
De uma treva escura tão

surge

uma aurora de azul-branco
que janelas fechadas
não me deixam ver.

Acorda, boneco de trapo, e
vai trabalhar!





Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos



Li poucas coisas tão pungentes quanto esse poema. A sensação que vem primeiro é a de ondulação, mistura ordenada de sons fluindo no fundo de um poço escuro.
Esses versos não saem da minha cabeça. 2h41, tenho de dormir.


Sorte no lado escuro do peito
é o jeito de ser do alguém
Escrita automática, idéias confusas
meu jeito de ser é o aquém

Dó de mim

Juro que não vou mudar
Juro que vou esperar
dentro do lado escuro do peito

Juro que não vou mudar
Juro que vou esperar
Sempre vou ser assim do meu jeito.


Talvez tenha um ouvido meio musical, pra coisa mesmo. Talvez seja só vontade de ser algo que não posso. Por que escrevo sempre de madrugada? É a melhor hora. Ninguém me lê, tenho minhas liberdades todas no escuro do meu lar. As pessoas dormindo e eu escrevendo, sangrando pelos dedos e nem sempre criando algo que tire um sorriso meu nem mesmo numa primeira e empolgada leitura. Às vezes acho que não levo mesmo jeito pra coisa.

Não agüento parar mais as coisas pela metade.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Pensamentos avulsos

Não suporto mais a cidade, todo esse barulho, calor. Acordo para ir trabalhar e, já próximo, sinto um cadeado apertar-me a garganta, uma secura, poluição.

Todo esse barulho me faz mal, ao menos pela manhã. Ao chegar da tarde já estou integrado ao caos, por mais que soe (sou) contraditório.

O prédio onde trabalho tem quatro andares – trabalho no último. Não gosto de elevador, escada rolante...a escada rolante é a negação do movimento! Que venha abaixo a escada rolante!...


Entre o falso e o costumaz me esgoto
Vivendo numa quase-cidade: esgoto.
Mirando o meio-fio desengulo o desgosto.

Vivo pois assim, numa coisa
estranha que em mim cria
sensação de não sei dizer.

Cidade, às vezes acho que te odeio.


Esta luta diária me deixa lento, mole e murcho. Só me dá vontade de olhar pro céu, pra rua, ver as pessoas passarem, todas com pressa...