domingo, 7 de dezembro de 2008

aconteceu mais uma vez (poema prosaico)

Eu tinha um poema lindo para escrever.
Infelizmente não havia canetas
e o único papel que carregava
era uma edição dos poemas de Borges.
As idéias brotavam e, embora conciso,
seria um bom poema
com cara de epigrama
mas dizendo tudo.
Seria minha epopéia final
toda minha vida sem desmedidas
contada num átimo, numa espanada de lápis
Mas eu não carregava um lápis, mas
apenas idéias soltas e ligadas por fios de intenção.

Minha epopéia acabou na minha memória,
que a sepultou de vez. É melhor assim,
a obra não feita ou incompleta
é aquela que sempre traz lembranças
as melhores que poderiam existir:
lembranças do porvir.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Poema

Rumo nulo   

As turmalinas foram embora 
travestidas de riqueza em transe. 
Foste ver também? Ainda há muito 
ouro de tolo em substância pura 
carnes inconclusas da terra em suspensão
depuradas em sangue alheio. 
Fazem eco sob muitos mantos. 
Podes ouvir? Talvez, mas ver já não podes. 
Nosso estado é de cavalo domado: 
Podemos correr, trotar, voar se assim quisermos 
Mas ver já não podemos, sequer olhar 
a não ser o que está à nossa frente ínfima. 
Já não temos mãos 
Que tirem a bitola apertada 
E esquecemos de derrubar quem nos açoita. 
És homem, mas agora não basta acordar e renascer e criar 
Qual a tua imagem e semelhança.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Alumbramento de revisor

crédito: arquivo da Família Monteiro Lobato
clique na imagem para ampliá-la


Aí está: uma página de Narizinho arrebitado com marcas de revisão de Monteiro Lobato.
É sempre empolgante deparar-se com pequenos achados na internet (mesmo que esse seja um achado só pra mim e meia dúzia de pessoas...).

domingo, 14 de setembro de 2008

poema

Sem título nº1

A vida purgada de ficção.
Ser alguém que se conhece,
ou não ser ou ter questão.

A vida purgada, desficcionada.
Aplicada em todas as suas regras
matemáticas eliminadas de linotipos.
Eletronicamente solitária.

Ego sum res.

sábado, 13 de setembro de 2008

Marcha Turca

Marcha Turca, composição de W. A. Mozart.
Transcrita para o violão e executada por William Kanengiser.



terça-feira, 19 de agosto de 2008

Minhas aventuras de Tibicuera

Uma das melhores coisas que podem acontecer a quem é apaixonado por livros é justamente reencontrar uma paixão da infância. Qual não foi minha alegria ao ver sujinho e baratinho num sebo bagunçado perto de casa um desses amores tão importantes e tão profundos?


Era um livrinho miúdo de capa laranja que narra a história fantástica de um pequeno índio ao longo de quatrocentos anos (sim, quatrocentos). O livro é As aventuras de Tibicuera e o autor, Erico Verissimo (1905-1975).



O adulto e civilizado doutor Tibicuera é morador de uma Copacabana que vivencia os fortes espasmos modernistas dos anos '30, e é nesse ambiente que nos conta de forma romântica sua história, de seu nascimento em uma aldeia tupinambá até sua vida de cidadão num país republicano que descende dos navegadores europeus que há tanto tempo invadiram esta terra. O livro, com todo o poder da escrita de Erico voltado às crianças e aos jovens da década de quarenta em diante, anda esquecido. Eu mesmo não me lembrava dele e se não fosse o encontro fortuito no sebo continuaria sem lembrar, tendo apenas uma recordação difusa desse que, curiosamente, ia e vinha pela minha cabeça de tempos em tempos. Curioso, não?


O escritor de Saga não se furtou de inserir em sua narrativa infantojuvenil guerra, amor, morte, nostalgia e crenças diversas, entre outros temas. As aventuras de Tibicuera são as aventuras de nossa terra e compõem um romance de formação de nosso país que se estende ao longo de quatro séculos, formando um pequeno “livro de tudo”. Tomar Tibicuera como metonímia de Brasil não é exagero e essa é uma das chaves dessa grande obra.


A escrita é envolvente e trata a criança como alguém que deve se divertir e se esforçar na busca pelo entendimento do que está lendo. Na página que faz as vezes de prefácio, Erico Verissimo diz:

Eu podia encher este livro com notas explicativas de certas palavras. Prefiro, entretanto, que vocês recorram ao dicionário, habituando-se a consultá-lo em casos de dúvida ou desconhecimento. É um bom exercício não só de paciência como também de honestidade intelectual. E, no fim de contas, sempre gravamos melhor na memória o significado das palavras que nos levaram a folhear dicionários.

Isso é tratar a criança e o jovem como eles são, seres de potencialidades. O salto entre essa abordagem e a atual, que toma jovens e crianças como imbecis, é pungente – abram qualquer livro didático composto nos últimos dez anos e leiam qualquer poema que por ventura exista nele: possivelmente encontrarão um emaranhado qualquer de frases justapostas que subestimam os mais jovens. E ganha-se dinheiro, bom dinheiro, escrevendo bobagens que serão compradas por editoras ditas infantis e publicadas juntas a ilustrações de gosto duvidoso.



Falando em ilustrações, a de capa é de Clara Pechansky (1936-) e as de miolo de Ernest Zeuner (1895-1967), feitas numa época de excelência mágica para a arte de compor livros.

sábado, 2 de agosto de 2008

Um novo semestre começando e mais um serviço pintando. Tudo novo de novo, ao que parece!

terça-feira, 22 de julho de 2008

No post logo atrás eu comentei que o buraco era mais embaixo. E era mesmo! Tão embaixo que meu pagamento está lá no fundo. Mas ele está subindo, lenta e monotonamente, só para usar uma palavra transformada em alegoria de lonjura pelo grande Bandeira.

Ah, sim! A cada dia sinto que meus amigos valem mais a pena e que eu também valho. E esse é um de meus bons motivos para sorrir.



A tempo: aqui você pode ler um pouco de Manuel Bandeira.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Mais um dia

Hoje fiz duas provas, em dupla. Entreguei uma delas sem acabar de passar a limpo, a outra psicografei uns trinta por cento e agora estou escrevendo pra ver se esqueço que só vou me formar em 2009.

Fora isso, tenho um poema que não consigo acabar e a incerteza de por quanto tempo terei serviço. Pra um mês está garantido; pra mais, quem sabe?

Já basta de lamúrias, não? Vamos fechar este post e começar o próximo com um sorriso, não um muxoxo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pois é.

Segunda-feira comecei a trabalhar como revisor freelancer numa grande editora. Iniciei o serviço com grandes esperanças (oh!), mas já tô vendo que o buraco é mais embaixo. Mais embaixo porque quando cair doerá mais.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Millencolin – Penguins & Polarbears




Taí uma banda que realmente me acompanha (seria o contrário, eu sei; mas aí não teria tanta graça escrever isto). Lozin' Must é uma de minhas músicas preferidas, mas este clipe é o melhor deles.

Espero poder vê-los ao vivo um dia. :/

terça-feira, 4 de março de 2008

Cidade, labirinto desbotado
Se aqui me fio e não me calo
é porque tento dizer a todo custo
com fumaça grudada na garganta
que não te quero mais.

Fruto do teu engenho torto
me criei – em ledo engano –
fantástico, inigualável e faminto
um jardim de alfazemas
em carne de concreto
sangue em chamas mortas.

Foi-se todo meu viço
Sou engrenagem e aqui repito
todo o todo o meu pesar
que não mais sinto
sou engrenagem e aqui repito
sempre

sempre

sempre





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Mais um poeminha inacabado. Já de dois anos pra cá só consigo escrever sobre um certo efeito de angústia que me dá em alguns momentos por conta dessa vida corrida. Até que é legal quando desembesto a escrever, mas eu imagino como deve ser viver num estado mórbido sempre e sempre...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Novamente venho pensando sobre pequenas mudanças no meu modo de ver as coisas. Quero voltar a dar aulas, mas neste ano será impossível. Muitas coisinhas pra acertar, mais uma estação pra finalizar e trilhos para colocar. Espero que meu trem parta logo!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Brincadeira soberana


As pipas costuram as nuvens, colchas de retalhos fugidios. Na luta pela hegemonia no céu cerúleo contam-se as baixas: um xis verde e rosa acabara de tombar, um outro cruz caiu em mãos inimigas e o pobre roxinho estatelou-se num emaranhado de cabos negros e tênis velhos amarrados, elementos do chão impuro.

A capucheta mantinha-se em níveis mais humildes, soldado de baixo escalão. O maranhão vermelho e negro reinava supremo desde o começo da tarde, após ter derrubado do poder a arraia azul e cinza, com apoio de um peixinho qualquer e uma pipa de sacola de supermercado, vil, porém de muita ajuda.

Daí a conclusão: a soberania no céu das pipas é democrática, pois cada dia tem seu rei.