sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Canto morto

Morreu Arjuna.
De Aquiles foi-se a fama.
Odisseu, Eneias, Belerofonte
não há mais.
Há só concreto e sangue sob asfalto.
E a lira jaz caída, perdida num canto,
carcomida pelo pó voraz de nossos tempos.
Isolda e Brunhilda não voltarão
Penélope apaixonada também não há mais.

Hoje há só retinas
e os raios de luz absorvidos
O mundo voltado para fora, sem a mínima solução.
Vivemos pois em tempos baços
e heroicos, de rouquidão extrema,
pois as verdades dos outros
cintilam sobre nós
de um modo vulturino.

Já o véu que carregamos aqui por dentro
jamais se derramará
novamente sobre a terra.

Estes sim são tempos heroicos.






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A melhor maneira - ou a única - de começar 2010 é com alguns versos. O próprio canto do poema é prosaico e gaguejante, seja na pontuação, seja no vocabulário sem invenção.
Queria ter disposição para discorrer mais sobre um tema caro, a fantasia e seu lugar no nosso século, mas não tenho pique para isso agora e não terei tão cedo. O que posso garantir é a posição da trincheira, a vigília apoiado na velha alabarda e a comida do hipogrifo de Ruggiero.