domingo, 18 de novembro de 2007


Muita gente conhece mais Noel Rosa pela imagem do que pela música. Especialmente pela sua autocaricatura, a mesma que ilustra este post. Estou entre esses, mas aos poucos descobrindo o mundo maravilhoso do samba dessa figura.

Vi Noel, Poeta da Vila nesse sábado e saí feliz da sala de cinema, com um sorrisão. Fico mais feliz ainda porque 2007 está sendo um ano de descobertas musicais para mim, e muita coisa de samba antigo, de música brasileira de qualidade feita só com nossos parâmetros, surgiu pra mim e foi ouvida com muita paixão. E devo isso à boa vontade de quem posta esses bons álbuns na internet.

Obrigado Noel! Obrigado a quem mantém nossa cultura viva, acesa e irradiando!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Poema do poema

Alva soa calada
Ave, alada ave, asa
cantada em seu próprio silêncio
Pela sua cor azul,
pelo seu olhar anil.

Brilha, ave, com suas penas alvicerúleas
na cabeça-nimbus.
Brilhave, altissonante luz emanada
em pena, em chaga.

Enquanto empunho o escudo de Sarpédon
e toco a flauta marsiástica, signo do segundo.

Voa, palavra,
desde os confins até o fim.
Voa.

Aí está um poema que comecei a escrever e que ainda não consegui acabar. Colocando-o aqui, posso sempre vir ao blog e ser questionado: "Vai me completar ou não?". Bom, coisas de um homem com memória ruim.

Falta muito. Vou tentar fazer um poema médio e espero que ninguém leia este post, hehehe.


Aquela janela, velha, entreaberta
Me
chama pra olhar, te ver
Mas
, olha, cadê a porta que eu deixei aqui?
Volta
, eu volto, volta, volta agora
Mas
cadê? Cadê a porta e você?


Se eu
for por todos, quem será por ti?
Se eu
for por mim, quem será por todos?
Se eu
for assim, quem será... (fatal)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Cara calada

Sentiu o travo à garganta como quando o sono se insinua, deitado na poltrona apertada e acolchoada do ônibus intermunicipal. A cabeça no encosto, olhos para o alto, céu chuvoso. Estava ali, a caminho, fazendo-se repetido outra vez, um bolachão riscado na melhor parte da música.

Para sua tristeza, não havia trazido guarda-chuva, e contra aquele aguaceiro que o pegara desprevinido nada poderia fazer. Chegou ao destino após as duas horas habituais, mais os dezesseis minutos inesperados. Venceu a catraca, o elevador e a recepcionista, chegando finalmente à sua mesa. Dezesseis minutos. Cartão de ponto passado como se passa uma lâmina num queijo em comercial de faca, e-mail com justificativa de atraso enviado para a empresa de contabilidade terceirizada. Tudo certo, tudo pronto. Em seu trabalho, almoça-se ao meio-dia.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Autonomia, mentiras e videoteipe

[Texto retirado do blog Autonomia e Justiça]

Paulo Martins
Professor Doutor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP



Desde o início da crise na USP, o governo, de forma direta por seus representantes legais, ou indireta por seus asseclas, sistemática e programaticamente vem utilizando a imprensa escrita e eletrônica para mentir, dissimular e tergiversar. Entre os primeiros, encontramos o senhor Aloysio Nunes Ferreira Filho, secretário-chefe da Casa Civil do governo do Estado de São Paulo, que, em recente artigo publicado em “Tendências/Debates”, argumenta mais uma vez que o que não é desejado pelos alunos e demais membros da comunidade acadêmica da USP é a transparência, e, indo além, diz de forma subliminar que os decretos não são inconstitucionais , e, assim, por corolário, a crise está a serviço de objetivos outros que não a luta efetiva pela autonomia.
É uma pena que um governo, democraticamente eleito, em cujo bojo possui quadros que deveriam ser respeitados por sua importante história no movimento estudantil e na luta pela redemocratização do país, repita os mesmos “erros” dos algozes de nosso passado ditatorial. Isto é, inverta argumentos e crie cortina de fumaça cujo objetivo fundamental é confundir a opinião pública, colocando-a contra seus maiores bens - a USP, a UNICAMP e a UNESP.
Vamos aos argumentos do senhor Aloysio: “poucos se deram ao trabalho de estudá-los cuidadosamente ou de explicar de modo racional o que neles há de errado”. Primeira mentira. Nos últimos meses, as comunidades acadêmicas das Universidades Estaduais vêm diuturnamente analisando cada um dos decretos e tornando públicos seus efeitos. A maior preocupação dos cientistas que sobre os decretos se debruçam é não cometer leviandades em suas análises, e, talvez, por isso mesmo, tenham demorado tanto a dar uma resposta contundente aos mesmos. Afirmar que a intenção primeira, dentro das Universidades Estaduais Paulistas, dos que lá trabalham ou estudam não seja “estudar cuidadosamente” ou “explicar de modo racional” mostra bem há quanto tempo o senhor Secretário está afastado dos bancos escolares e, mais, precisamente, das Universidades.
Afirma, ainda, que o pomo da discórdia é a questão da transparência, implementada pelo decreto 51.636 e que as Universidades são resistentes a ela. Segunda mentira. Pelo que consta, jamais as Universidades Estaduais foram contra a prestação de contas diária no SIAFEM, tanto que, salvo equívoco, já a fazem sem restrições. O fulcro da questão é outro: o remanejamento de verbas que isso implica, ou ainda, a submissão das Universidades a uma autorização superior para utilizar seus recursos como bem lhe aprouver. Afinal, rezam a Constituição Federal (artigo 207) e a Constituição Estadual (artigo 254) que as Universidades gozam de autonomia administrativa, financeira e patrimonial. É descabido imaginar que professores, alunos e funcionários sejam contra a transparência em qualquer instância na medida em que são a favor da autonomia. Essas não são antônimas.
Bem, outro ponto que nos deixa pasmos é o vitupério empreendido pelo senhor Secretário, falando acerca do remanejamento das verbas como criação do governo Serra : “essa inverdade tem sido repetida por professores e até ‘juristas’ desinformados e jornalistas que não se deram ao trabalho de conferir o que iam escrever”. Dentre os professores desinformados encontram-se aqueles que se dedicam cotidianamente à reflexão séria, reconhecida internacionalmente, e que fazem o nome do nosso Estado, no que diz respeito à educação superior, ser considerado em todo o país e, fora dele, também. Afinal, as Universidades Estaduais Paulistas são responsáveis pela maioria da pesquisa de ponta realizada no Brasil e isso não se restringe às áreas técnicas e tecnológicas, antes vai muito além. É muito curioso o que acontece com este governo, pois utiliza as Universidades para seus programas eleitoreiros e eleitorais (quem não se lembra da última campanha), salientando suas qualidades, mas quando essas vão contra seus interesses escusos, então passam a ser centros de inverdades e de total desqualificação.
Entretanto, o que choca mesmo é a colocação de certas aspas em “juristas”, usadas pelo senhor Secretário. Pelo que sei, alguns nomes podem ser incluídos nesse rol: Dalmo de Abreu Dallari (Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e ex-Diretor da mesma Faculdade, com mais de vinte livros publicados com ênfase em Direito Constitucional) e Odete Medauar (Professora Titular de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da USP, com mais de trinta livros publicados) – entre outros juristas –pelo posicionamento explícito diante das inconstitucionalidades dos “famigerados” decretos.
Não precisamos levantar o curriculum de cada um deles para verificar que, se podemos usar argumento jurídico de autoridade, não será o do senhor Secretário aquele que poderá emular com os dos conceituados juristas consultados pelos professores, alunos e funcionários. Desconsiderar a trajetória profissional de Dalmo de Abreu Dallari, por exemplo, seria negar inclusive a história de “lutas” dos mandatários desse governo quando ainda eram alvos constantes da ditadura militar.
Por outro lado, o vitupério se estende também aos jornalistas. Bem, jornalistas mal informados ou que não conferem suas fontes, esses, creio que o senhor Secretário os conhece muito bem, pois se encontram a serviço do Palácio dos Bandeirantes, reproduzindo ipsis litteris, o que o poder constituído determina. Basta observarmos as matérias veiculadas pela revista Veja.
Com o artigo do senhor Aloysio, o governo mais uma vez tergiversa. Foge da questão central. Os decretos ferem, sim, a autonomia e argumentos abundam e são facilmente verificados por aqueles que possuem um curso elementar de português. Nós, professores, não somos contra a transparência, somos contra a utilização de uma suposta “legalidade”, embutida na forma de decretos. Somos a favor daquilo que é legítimo direito e ampara toda a forma de luta para resgatar, se ainda há tempo, a liberdade de as Universidades Estatuais Paulistas decidirem seus destinos internamente de acordo com a Carta Magna do país e do Estado e de acordo com seus interesses. Esses, sim, têm um único fim: a manutenção da qualidade e da transparência incontestes.
Ao lermos o texto do senhor Aloysio Nunes Ferreira Filho, temos a sensação de déjà vu como aquele filme que é repetido sistematicamente todo ano depois do Fantástico, ou ainda, como o videoteipe do milésimo gol do Pelé ou do Romário, ou pior – para nós professores, alunos e funcionários da USP, UNICAMP e UNESP –, como as ações programáticas que servem, a cada novo governo, para soterrar algo que ainda há de bom no Estado de São Paulo – as nossas Universidades.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Rio de Janeiro 2000

Saído novamente de
trincheiras periféricas
o homem do povo
caminha
.

Ao largo, passam viaturas,
Caveirões com vidas dentro
– a antítese consumada –,
zunidos.

–Há caminhos livres?


Post duplo!

Há um tempinho atrás, um texto meu sobre o sítio de Glauco Mattoso, contendo um manual de versificação, foi publicado num site de literatura e cultura – o Cronópios (endereço na seção de linques do blog).

Fiquei animado por ter sido este meu primeiro material crítico – mesmo que não tenha ficado excelente –. Bom, fica aí o registro.

Pra quem quiser dar uma olhada, o sítio desta obra de Glauco Mattoso é este.


domingo, 29 de abril de 2007

Sobre o revisor pobre

Empunha uma caneta em cada mão!
Rupestre tal ofício: corrigir
os erros de quem erra ao se exprimir
com verbo, fraseado, conjunção.

Parece reescrever co'a gasta mão
os textos, numa lida qual faquir,
de novo preparado a redigir
correndo pra entregar na data então.

"Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!"
Em busca de sua paga pro aluguel.
Receio de verdade é ir pra rua.

Os olhos castigados por cinzel
pontudo da chatice da leitura
dos textos editados a granel...




Num dia em que eu estava mais engraçadinho do que o normal escrevi esse sonetinho aí...

quarta-feira, 28 de março de 2007





Do alto de minha janela
o silêncio da avenida.

Leve zumbido
gostoso.
Sibilo de vento.

Branco(Verde?) de lâmpadas enganosas,
o duvidoso escuro noturno.





segunda-feira, 26 de março de 2007

Acordação

Noites de des-sono
que repasso.
Que vêm e vão e
nem notadas são.
De uma treva escura tão

surge

uma aurora de azul-branco
que janelas fechadas
não me deixam ver.

Acorda, boneco de trapo, e
vai trabalhar!





Psicologia de um vencido


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos



Li poucas coisas tão pungentes quanto esse poema. A sensação que vem primeiro é a de ondulação, mistura ordenada de sons fluindo no fundo de um poço escuro.
Esses versos não saem da minha cabeça. 2h41, tenho de dormir.


Sorte no lado escuro do peito
é o jeito de ser do alguém
Escrita automática, idéias confusas
meu jeito de ser é o aquém

Dó de mim

Juro que não vou mudar
Juro que vou esperar
dentro do lado escuro do peito

Juro que não vou mudar
Juro que vou esperar
Sempre vou ser assim do meu jeito.


Talvez tenha um ouvido meio musical, pra coisa mesmo. Talvez seja só vontade de ser algo que não posso. Por que escrevo sempre de madrugada? É a melhor hora. Ninguém me lê, tenho minhas liberdades todas no escuro do meu lar. As pessoas dormindo e eu escrevendo, sangrando pelos dedos e nem sempre criando algo que tire um sorriso meu nem mesmo numa primeira e empolgada leitura. Às vezes acho que não levo mesmo jeito pra coisa.

Não agüento parar mais as coisas pela metade.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Pensamentos avulsos

Não suporto mais a cidade, todo esse barulho, calor. Acordo para ir trabalhar e, já próximo, sinto um cadeado apertar-me a garganta, uma secura, poluição.

Todo esse barulho me faz mal, ao menos pela manhã. Ao chegar da tarde já estou integrado ao caos, por mais que soe (sou) contraditório.

O prédio onde trabalho tem quatro andares – trabalho no último. Não gosto de elevador, escada rolante...a escada rolante é a negação do movimento! Que venha abaixo a escada rolante!...


Entre o falso e o costumaz me esgoto
Vivendo numa quase-cidade: esgoto.
Mirando o meio-fio desengulo o desgosto.

Vivo pois assim, numa coisa
estranha que em mim cria
sensação de não sei dizer.

Cidade, às vezes acho que te odeio.


Esta luta diária me deixa lento, mole e murcho. Só me dá vontade de olhar pro céu, pra rua, ver as pessoas passarem, todas com pressa...

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Último álbum da banda paulistana com mais de trinta anos de carreira – uns dez de inatividade.
Muito saboroso, vale a pena conferir!

Download aqui.