terça-feira, 19 de agosto de 2008

Minhas aventuras de Tibicuera

Uma das melhores coisas que podem acontecer a quem é apaixonado por livros é justamente reencontrar uma paixão da infância. Qual não foi minha alegria ao ver sujinho e baratinho num sebo bagunçado perto de casa um desses amores tão importantes e tão profundos?


Era um livrinho miúdo de capa laranja que narra a história fantástica de um pequeno índio ao longo de quatrocentos anos (sim, quatrocentos). O livro é As aventuras de Tibicuera e o autor, Erico Verissimo (1905-1975).



O adulto e civilizado doutor Tibicuera é morador de uma Copacabana que vivencia os fortes espasmos modernistas dos anos '30, e é nesse ambiente que nos conta de forma romântica sua história, de seu nascimento em uma aldeia tupinambá até sua vida de cidadão num país republicano que descende dos navegadores europeus que há tanto tempo invadiram esta terra. O livro, com todo o poder da escrita de Erico voltado às crianças e aos jovens da década de quarenta em diante, anda esquecido. Eu mesmo não me lembrava dele e se não fosse o encontro fortuito no sebo continuaria sem lembrar, tendo apenas uma recordação difusa desse que, curiosamente, ia e vinha pela minha cabeça de tempos em tempos. Curioso, não?


O escritor de Saga não se furtou de inserir em sua narrativa infantojuvenil guerra, amor, morte, nostalgia e crenças diversas, entre outros temas. As aventuras de Tibicuera são as aventuras de nossa terra e compõem um romance de formação de nosso país que se estende ao longo de quatro séculos, formando um pequeno “livro de tudo”. Tomar Tibicuera como metonímia de Brasil não é exagero e essa é uma das chaves dessa grande obra.


A escrita é envolvente e trata a criança como alguém que deve se divertir e se esforçar na busca pelo entendimento do que está lendo. Na página que faz as vezes de prefácio, Erico Verissimo diz:

Eu podia encher este livro com notas explicativas de certas palavras. Prefiro, entretanto, que vocês recorram ao dicionário, habituando-se a consultá-lo em casos de dúvida ou desconhecimento. É um bom exercício não só de paciência como também de honestidade intelectual. E, no fim de contas, sempre gravamos melhor na memória o significado das palavras que nos levaram a folhear dicionários.

Isso é tratar a criança e o jovem como eles são, seres de potencialidades. O salto entre essa abordagem e a atual, que toma jovens e crianças como imbecis, é pungente – abram qualquer livro didático composto nos últimos dez anos e leiam qualquer poema que por ventura exista nele: possivelmente encontrarão um emaranhado qualquer de frases justapostas que subestimam os mais jovens. E ganha-se dinheiro, bom dinheiro, escrevendo bobagens que serão compradas por editoras ditas infantis e publicadas juntas a ilustrações de gosto duvidoso.



Falando em ilustrações, a de capa é de Clara Pechansky (1936-) e as de miolo de Ernest Zeuner (1895-1967), feitas numa época de excelência mágica para a arte de compor livros.

sábado, 2 de agosto de 2008

Um novo semestre começando e mais um serviço pintando. Tudo novo de novo, ao que parece!